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sábado, 12 de setembro de 2009

Coco da bicharada

Coco da Bicharada

Recriação de cantiga e versalhada popular por Antonio Nóbrega e Wilson Freire

Vou contar, que eu conheço,
E você nem acredita:
Uma cidade esquisita
Onde tudo é pelo avesso.
Se quiser dou o endereço
Para visitá-la um dia,
Gente lá não tem valia,
Como bicho é tratada,
Lá homem não é nada
Só quem manda é a bicharia.

Avoa, meu caboré,
Peneira, meu gavião.
Palmatória quebra dedo,
Palmatória faz vergão.
Quebra tudo, quebra pedra,
Só não quebra opinião.

Vi mosca de camisola,
Vi cavalo num debate,
Vi uma traça alfaiate,
Guaxinim tocar viola,
Um siri jogando bola.
Vi um píca-pau ferreiro,
Um veado arruaceiro,
Vi um mosquito tossindo,
Vi uma gata parindo,
E o cachorro era o parteiro.

Vi um peixe de chocalho,
Uma perua discreta,
Jabuti que era atleta
Mais veloz que um atalho,
Calango jogar baralho,
Formiga tapando furo,
A lagartixa no muro
Dando uma de alpinista,
E um preá capitalista
Emprestar dinheiro a juro.

Avoa, meu caboré,
Peneira, meu gavião.
Palmatória quebra dedo,
Palmatória faz vergão.
Quebra tudo, quebra pedra,
Só não quebra opinião.

Vi um jumento escrevendo,
Vi preguiça trabalhando,
Vi a besta reclamando.
Eu vi um morcego lendo,
Caranguejeira tecendo,
Porca em água-de-cheiro,
Vi um cururu faceiro,
Coruja no oculista,
Vi tatu ser maquinista.
No metrô lá de pinheiros

Vi a pulga se coçando,
Avestruz tirar encosto,
Vi barata ter bom gosto,
Um bode se barbeando,
Um gambá se perfumando,
Siriema ser modelo.
Vi minhoca de cabelo,
Vi cobra de suspensório,
Macaco no escritório
Organizando o desmantelo.

Avoa, meu caboré,
Peneira, meu gavião.
Palmatória quebra dedo,
Palmatória faz vergão.
Quebra tudo, quebra pedra,
Só não quebra opinião.

Vi onça vegetariana,
Piolho coçar cabeça,
Vi um burro prestar queixa,
Leão comando banana.
Vi a zebra de pijama,
Eu vi um peba engenheiro,
Guariba tocar pandeiro,
Tanajura usando tanga,
Vi o cão chupando manga,
Batendo bombo em terreiro.

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